Polícia Federal acusa Bruno Henrique de manipular cartão amarelo contra o Santos
A Polícia Federal indiciou o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, sob a acusação de envolvimento em um esquema de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro de 2023. O episódio investigado ocorreu durante a 31ª rodada da competição, na partida contra o Santos, disputada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no dia 1º de novembro daquele ano. O jogador teria forçado um cartão amarelo com o objetivo de beneficiar apostadores.
Segundo informações do portal Metrópoles, o indiciamento é por estelionato e fraude em competição esportiva, e envolve, além do jogador, três familiares e outros seis envolvidos. O nome de Bruno Henrique apareceu nas investigações após a análise de mensagens encontradas no celular de seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior. Essas conversas, de acordo com os investigadores, o colocariam diretamente ligado ao esquema de apostas.

Mensagens comprometedoras e conversas reveladas pela PF
O trecho de uma troca de mensagens no WhatsApp entre Bruno Henrique e seu irmão foi decisivo para o indiciamento. No dia 29 de agosto de 2023, os dois conversaram sobre a possibilidade de o jogador forçar o terceiro cartão amarelo no Brasileirão. O diálogo foi o seguinte:
“O tio você está com 2 cartão no brasileiro?”
“Sim”, respondeu Bruno Henrique
Wander: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk”
Bruno Henrique: “Contra o Santos.”
Wander: “Daqui quantas semanas?”
Bruno Henrique: “Olha aí no Google.”
Wander: “29 de outubro”, “Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk”
Bruno Henrique: “Não vou reclamar”, “Só se eu entrar forte em alguém.”
Wander: “Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso.”
Esse tipo de conversa deixou os investigadores em alerta, pois apontaria uma possível pré-definição da jogada. Inclusive, na véspera da partida, Bruno Henrique teria feito uma ligação para confirmar se tomaria mesmo o cartão amarelo, o que reforça a suspeita de fraude.

Família de Bruno Henrique também está entre os indiciados
Além de Bruno Henrique, outras pessoas da sua família foram formalmente indiciadas pela Polícia Federal. Entre eles estão o irmão Wander Nunes Pinto Júnior, a cunhada Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso. Todos eles realizaram apostas específicas para que o jogador recebesse um cartão amarelo naquela partida contra o Santos.
As apostas não foram de altos valores, mas o retorno chamou atenção. Wander apostou R$ 380,86, recebendo R$ 1.180,67. Ludymilla apostou duas vezes: a primeira no mesmo valor de R$ 380,86, e a segunda de R$ 500,00, com retorno de R$ 1.180,67 e R$ 1.425,00, respectivamente. Poliana também apostou os mesmos R$ 380,86 e teve o mesmo retorno dos outros. Isso levanta questionamentos sobre a possível prévia organização do esquema.

Outros envolvidos e operações da PF pelo Brasil
Além dos familiares do jogador, a Polícia Federal identificou mais seis apostadores diretamente ligados ao caso. São eles: Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Rafaela Cristina Elias Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Andryl Sales Nascimento dos Reis, Max Evangelista Amorim e Douglas Ribeiro Pina Barcelos. Os nomes foram revelados após o cumprimento de diversos mandados de busca e apreensão em várias cidades.
No total, mais de 50 agentes da PF participaram da operação, que aconteceu em novembro de 2023. Os mandados foram executados em endereços no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG). Dois locais de destaque também foram alvo da operação: o Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, e a residência de Bruno Henrique, onde seu celular foi apreendido.

O silêncio do jogador e a posição oficial do Flamengo
Desde que o caso veio à tona, Bruno Henrique não se pronunciou publicamente. Segundo sua assessoria, ele decidiu não se manifestar por orientação jurídica. O clube carioca, por sua vez, soltou uma nota oficial afirmando que não foi comunicado por nenhuma autoridade sobre o indiciamento do atleta.
“O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique.
O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.“
A nota foi divulgada no fim do dia e reforça que o clube irá acompanhar o caso, mas sem tomar medidas imediatas, ao menos por enquanto.

Investigações e possível denúncia do Ministério Público
As investigações da PF se iniciaram em agosto de 2023 e, após meses de trabalho, resultaram no relatório encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal. Agora, cabe ao MPDFT analisar as provas e decidir se oferecerá denúncia formal contra os envolvidos.
Se a denúncia for aceita, Bruno Henrique poderá responder judicialmente por fraude em competição esportiva e estelionato, o que pode acarretar penalidades sérias, tanto na esfera criminal quanto na esportiva.

Caso Paquetá e os reflexos no futebol brasileiro
Curiosamente, meses após o episódio envolvendo Bruno Henrique, um outro caso de grande repercussão veio à tona: Lucas Paquetá, jogador do West Ham e ex-Flamengo, passou a ser investigado por possíveis manipulações ligadas a apostas no futebol europeu. A semelhança entre os casos levanta um alerta geral no futebol brasileiro e mundial, especialmente diante do crescimento das casas de apostas.
Esses episódios reacendem o debate sobre a ética esportiva e a fiscalização rigorosa nos bastidores do futebol. Apesar de o valor das apostas ser relativamente baixo, os indícios apontam para um esquema organizado e com ramificações familiares e externas, o que preocupa as autoridades e as entidades esportivas.